Padre Marcelo Moreira Santiago pregou no último dia da Novena em honra a Imaculada Conceição no Santuário de mesmo nome em Ouro Preto. Segue abaixo a belíssima reflexão:
|
Foto: Gilsomar Batista |
NONO DIA DA NOVENA DA IMACULADA
CONCEIÇÃO
Ouro Preto, 07 de dezembro de 2012
- Saúdo, na fé, a todos - irmãos e irmãs: de modo especial
nossos irmãos presbíteros, as ordens e irmandades, sobretudo as que hoje têm
participação especial.
- Agradeço o convite amigo de nosso pároco – pe. Luiz
Carneiro, para poder refletir, com todos, uma palavra de fé, no encerramento
solene desta novena.
Irmãos e irmãs,
Nesse tempo
litúrgico que insere a Igreja no mistério da vinda de Cristo, somos exortados,
com a celebração do 35º Jubileu da Mãe e Padroeira, a Imaculada Conceição, a renovar
a certeza de que Deus está presente em nossa história e que, em seu Filho Jesus
Cristo, manifesta ao mundo seu desígnio de benevolência.
Jesus
cumpre, na plenitude dos tempos, a promessa de Deus nosso Pai. Ele vem como luz
para dissipar as trevas de nosso coração e trazer vida e salvação. Através de
nossa fé, de nossa esperança e de nossa caridade, Deus quer entrar no mundo
sempre de novo e quer, sempre de novo, fazer resplandecer a sua luz na nossa
noite. Deixemo-nos iluminar, à semelhança de Maria, pela luz que é o próprio
Deus.
De fato, ninguém
como Maria soube em tudo fazer a vontade de Deus, fazer-se serva do Senhor,
guardar em seu coração a Palavra de Deus e fazer-se servidora à luz desta
Palavra. Ela nos ensina, no Magnificat, a cantar as maravilhas de Deus; nas
bodas de caná, a fazer tudo o que seu Filho nos ensina. Ela nos ensina ao
visitar Isabel, a ir ao encontro dos mais necessitados; ao estar ao lado de
Jesus, na crucificação, a confiar em Deus e enfrentar as provações e durezas da
vida sem perder a esperança e mantendo-se sempre fiel.
Queremos na
celebração do “Ano da Fé”, abrir o nosso coração à graça de Deus, para viver a
vida cristã: na escuta atenta à Palavra de Deus, animando a nossa vida e toda
ação pastoral em nossas comunidades; na participação orante e sacramental, em
nossas comunidades, vivendo a centralidade da fé em Jesus Cristo, alimentada
pela Palavra e pela Eucaristia; no amor fraterno, vivendo à luz do distintivo
da fé, a caridade, tanto na vida da comunidade como também com um olhar voltado
para os mais afastados. “Nisto reconhecereis que sois os meus discípulos, se
vos amardes uns aos outros como eu vos amei”.
No
encerramento solene de nossa novena, fazemos especial memória de tantos que nos
precederam na fé. Leigos(as), religiosas, sacerdotes que viveram e
testemunharam a fé, sobretudo em nossa Ouro Preto e particularmente nesta
comunidade paroquial de Antônio Dias.
Eles nos
legaram esse bem maior: o patrimônio da fé e de uma autêntica religiosidade,
expressas no amor a Deus; na confiança da proteção da Virgem Maria, aqui
invocada a Imaculada Conceição e nominada a seguir com tantos títulos; Deles
também recebemos, como grande legado, a devoção aos santos; a fidelidade aos
ensinamentos da Igreja e a vivência cristã no caminho da busca da santidade de
vida, da comunhão fraterna e do compromisso com a missão.
Deus seja
louvado por todos aqueles(as) que confessaram a beleza de seguir Jesus Cristo –
caminho, verdade e vida. Esta é a centralidade de nossa fé.
A devoção à
Imaculada Conceição nos leva a seu Filho, nos leva a Jesus de Nazaré. N’Ele nós
encontramos a face de Deus que desceu do céu para adentrar-se em nosso mundo e
ensinar a todos a “arte” de viver, o caminho da felicidade e da salvação. Ele desceu
do céu para nos libertar do pecado e tornar-nos filhos e filhas de Deus, para
que tenhamos vida e vida em plenitude.
Nós, irmãos
e irmãs, somos enviados em missão, chamados a continuar a obra salvadora de nosso
Deus e Senhor. Somos chamados a ser sal da terra, luz do mundo, a ser fermento
na massa. Diz Jesus: brilhe a vossa luz diante dos homens para que vendo as
vossas boas obras glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.
Onde
produzir frutos e frutos bons?
Onde Deus
nos colocou: junto aos nossos, em família; em nossas comunidades, não
escondendo os dons e talentos, mas colocando-os a serviço; nos ofícios
assumidos na sociedade. Onde estivermos, somos chamados a ser sinal luminoso da
fé, que nos faz viver o discipulado missionário.
Não podemos
nos omitir diante de um mundo com suas muitas necessidades. O testemunho
cristão é, para muitos, a única pregação, o único evangelho que têm contato.
Não podemos perder as oportunidades de evangelizar. Temos que ajudar as pessoas
a celebrarem, na vida, o encontro permanente com o Cristo.
Na
recordação criativa do testemunho de fé, vivido pelos nossos antepassados,
somos exortados a renovar três grandes propósitos em nossa caminhada de fé na
vida da Igreja.
1. Cuidem
de suas famílias. Se não nos dedicarmos à família como convém,
encontraremos dificuldades ainda maiores na construção de uma humanidade melhor
e de uma Igreja atuante, comprometida com a vida na construção do Reino de
Deus. Tudo que fazemos para a família ainda é pouco perto do que ela precisa,
perto do que ela merece.
·
Família
precisa ser o lugar da acolhida e da convivência, o espaço, por excelência, que
permite que a vida desabroche em frutos bons. A família precisa ser comunidade
de fé e de amor, lugar da vivência dos valores humanos e cristãos.
·
É
verdade que, às vezes, enfrentamos muitos problemas em família: dificuldades
econômicas, divisões, vícios, doenças... ninguém pode se omitir de fazer o bem.
A missão começa em casa, em família. Se a situação está difícil, o caminho não
é abandonar o barco, abandonar as pessoas, o caminho é amar e amar mais – agir
com mais paciência, ser perseverante apesar dos pesares; fazer o que está a seu
alcance e confiar em Deus, quando as decisões não dependem tanto de nós. Sabemos
que Deus não desiste de ninguém, nós também não podemos desistir das pessoas.
Temos sempre que estender nossas mãos e o nosso coração para as pessoas,
sobretudo em família.
2. Conservem o jeito piedoso e
reto de viver a fé. Cultivem a vida de oração, a participação na Igreja,
nos sacramentos, a devoção aos santos, a permanente escuta da Palavra de Deus,
a alegria cristã por fazer o bem e ajudar as pessoas. Triste é uma pessoa que
não tem fé, triste é um cristão que não vive a sua fé, que vive como se Deus
não existisse, que não alimenta a sua fé, participando da comunidade, colocando
seus dons a serviço da vida e da esperança.Triste é um cristão que se deixe
levar pelas coisas do mundo e já não coloca Deus como o centro de sua vida.
3. Procure viver ativamente a
vida de comunidade. Nós somos a Igreja, o povo de Deus. Somos chamados a
ser comunidade de comunidades em estado permanente de missão. Comunidade é todo
mundo participando, é todo mundo se ajudando, numa corresponsabilidade
ministerial que faça da Igreja sacramento do Reino de Deus. É nos deixarmos, a
exemplo de Maria, a Imaculada Conceição, nos conduzir pela ação do Espírito
Santo. Cada um tem o seu jeito, não se tem como vestir o mesmo uniforme, e Deus
não quer isto para a sua Igreja, mas todo mundo é importante e todos, em
verdade, têm coisas boas para partilhar, tem também muito por aprender. Todos
somos chamados a viver a unidade e a comunhão, testemunhando, em gestos
concretos, a fraternidade de irmãos(as),à semelhança das primeiras comunidades
cristãs. Os que ainda não faziam parte, diziam dos primeiros cristãos: “Vede
como eles se amam”. A novidade da fé em Cristo fazia a diferença, encantando a
todos. Assim deve continuar, a partir de nosso testemunho.
·
Nessa
consciência de comunidade, deve ser preocupação constante o compromisso de ir
ao encontro dos afastados de tal modo que cresça em nós a consciência de onde
estivermos aí também esteja, através de nós, o próprio Cristo. A missão
continental começa com essa consciência de que todos nós, pelo batismo, somos
todos missionários(as). Como Igreja, comunidade de fé e de amor, somos chamados
a viver o evangelho não só entre nós, mas no mundo, com uma presença pública da
Igreja que anima, transforma, liberta e salva toda a humanidade.
Devotos de Maria, sejamos também
seus imitadores e que ela nos cubra com seu manto materno aquecendo o nosso
coração na fé e sendo refúgio em meio às tempestades da vida. Sua prontidão em
dizer “SIM” a Deus, nos ajude a vencer os medos e incertezas destes novos
tempos; sua fidelidade à missão que o Pai lhe confiou, desperte em nós a
alegria e a coragem de guardar a fé e viver uma vida serviçal, testemunhando,
com o que somos e temos o amor a Deus e o amor aos irmãos.
Ó Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós e por
todos aqueles que a vós não recorrem.
Pe. Marcelo Moreira Santiago